Desde cedo a minha paixão por motas despertou e foi com 10 anos que chegou as minhas mãos uma Kawasaki 50cc preta que se encontrava adormecida entre os becos das ruas confusas de Macau. A mota parecia abandonada, mas depois de ficar arranjada, parecia acabadinha de sair do stand e não era a ferrugem instalada nos amortecedores que me iria roubar aquele momento de felicidade, provavelmente o maior de infância, a minha primeira mota! No meio de milhões de scooters com aquele barulho irritante, aquela mota tinha algo de diferente, não era concretiza a sua beleza porque bonita não era mas sim algo de especial, talvez o facto de ter mudanças e só isso, para mim, era uma questão a que dava muito valor.
Não sabia andar mas tinha uma noção: o meu pai dizia que era a 1º para baixo e todas as outras para cima e lá ia eu devagarinho nas terras do istmo de Coloane, que agora já não existe, tendo sido substituído por mais hotéis e casinos que se tornaram cenários habituais na cidade de Macau. Lembro-me que era aos fins-de-semana que mais andava na mota. Ou porque me portava bem ou não tinha negativa num teste da escola, já era motivo mais que suficiente para o meu pai me levar a dar uns giros. Isto acontecia quando a mota pegava, pois existiram grandes momentos de tenção da minha parte, quando via o meu pai a dar ao kiko, a suar por todos os lados e a bufar por não obter nenhuma resposta, eram momentos difíceis para mim, pois não queria ir para casa sem ter tido aquele prazer e aquela adrenalina. Foram muitas as vezes em que ‘’roubava’’ a chave ao meu pai e ia para a garagem sentir a liberdade de andar e, aos poucos, começava a dominar aquela motinha que mais parecia um brinquedo. E passar com ela pela ponte nova? Sobrevoando o riu das Pérolas, por vezes, não era tarefa fácil, quando o vento soprava com mais intensidade a mota já não andava bem em linha recta.
Momentos simples mas marcantes e sentido de liberdade foi aquilo que senti com a minha primeira mota, talvez seja assim com o que acontece pela primeira vez...
Vasco C.